segunda-feira, 2 de setembro de 2013

O construtivismo na educação no filme-documentário "Jean Piaget"

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PGL - [José Paz Rodrigues] O psicopedagogo suíço Jean Piaget (1896-1980) é valorizado como um dos mais originais e fecundos psicólogos do século XX, embora ele se considerasse antes de nada como um epistemólogo. Na sua dilatada e completíssima obra trata de averiguar como se constrói o conhecimento e de explicar o desenvolvimento da inteligência humana.


A sua conceção construtivista fundamenta-se na interação entre as ideias prévias das pessoas e a sua atividade transformadora do meio, através do desenvolvimento da atividade infantil e da formação de um juízo autónomo. As suas teorias tiveram um grande impacto na educação escolar contemporânea e os seus livros foram amplamente difundidos por todo o mundo. Só na nossa língua foram publicados da sua autoria, e alguns em colaboração com outros autores, uns 55 manuais e monografias, todos muito interessantes, por ser também produto na sua totalidade das suas pesquisas e investigações de tipo experimental. Todos consideramos o trabalho de Piaget como pioneiro no campo da inteligência das crianças. Passou grande parte de sua carreira profissional interagindo com crianças e estudando o seu processo de raciocínio. Os seus estudos, tal como antes comentei, tiveram um grande impacto sobre os campos da Psicologia e da Pedagogia.
Piaget dedicou-se por completo ao estudo dos conhecimentos científicos. Durante toda a sua longa vida tentou indagar como se produzem novos conhecimentos e, ao mesmo tempo, explicar o desenvolvimento da inteligência humana. Embora escrevesse algumas obras relacionadas diretamente com a pedagogia, e tivesse uma participação muito ativa em organizações relacionadas com a educação, sendo diretor durante muitos anos do Bureau Internacional de Educação (IBE) em Genebra, ou na UNESCO, as suas contribuições mais importantes à educação estão relacionadas sobretudo com o seu trabalho como investigador da mente humana. É inegável que as suas contribuições teóricas têm, e podem ter, uma incidência enorme na tarefa educativa e na didática das aulas, pelo que se torna adequado inclui-lo entre os autores que realizaram contributos significativos à educação. Ao igual que Rousseau, Montessori, Decroly, Claparède e Dewey, que não eram pedagogos em sentido estrito. O que Piaget pretende na escola é contribuir para o desenvolvimento dos indivíduos, socializá-los de forma metódica, facilitar-lhes que adquiram conhecimentos e valores, que desenvolvam a sua inteligência e que cheguem a converter-se em adultos autónomos. De todos estes assuntos se ocupou Piaget nas suas pesquisas experimentais.
Definitivamente, o que nos oferece o psicopedagogo genebrino é uma visão do ser humano como um organismo que, ao agir sobre o meio e modificá-lo, modifica-se também a si próprio. Piaget considera o desenvolvimento da inteligência e a formação dos conhecimentos, processos que entende como indissociáveis, como um produto que se inicia na atividade biológica dos seres humanos e na sua capacidade de adaptação ao meio. A construção da inteligência para ele é um processo que segue as mesmas leis de funcionamento que permitem aos seres vivos manter-se em equilíbrio com o seu meio e sobreviver. Considera, pois, que o conhecimento se origina na ação transformadora da realidade, seja material ou mentalmente. As suas teorias, resultado de múltiplas pesquisas e experiências, contradizem as posições tradicionais sobre este tema mantidas ao longo da história, como o empirismo e o inatismo. A teoria piagetiana surge num determinado momento muito importante para as reformas educativas. No momento em que se estão a dar grandes mudanças no campo da educação, que se vinham gerando desde finais do século XIX. Com uma rejeição do modelo da escola tradicional, centrada na transmissão puramente verbal e que proporciona uns conhecimentos de escassa utilidade aos alunos. Frente a isto nasce um movimento pedagógico que apostava por um ensino mais ativo, que partisse dos interesses dos alunos e que servisse para a vida. Muitas correntes de diferentes países vêm a confluir sobre os mesmos interesses e fundamentos. Embora com algumas diferenças e divergências, existe uma coincidência fundamental numa série de pontos entre autores e educadores muito distintos. Em todos deixava-se sentir profundamente a necessidade de uma escola que preparasse para a vida e mais integrada com a realidade.
Tratava-se sobretudo de ideias que se originavam na prática, mas que tinham um escasso fundamento teórico. Por isto, precisamente, a teoria de Piaget, que se desenvolve na cidade de Genebra, um dos mais importantes centros da pedagogia ativa, vem proporcionar esse fundamento teórico necessário, ao explicar como se formam os conhecimentos e o significado psicológico de muitas das práticas que estava propondo a escola ativa. E como aquela formação dos mesmos é diferente nas etapas pelas que vai passando a criança até chegar a adulto. Etapas que Piaget denominava estágios, que muito bem estudou e experimentou, que tanta importância têm para ter em conta nas aulas segundo as idades dos alunos, desenvolvendo a adequada didática em cada momento evolutivo da escolaridade.
Com roteiro e apresentação de Yves de La Taille, Atta Mídia e Educação do Brasil, realizou um interessante filme-documentário em 2006, dedicado a Jean Piaget, objeto do presente comentário num novo artigo da série dedicada aos grandes educadores do mundo.
Ficha técnica do filme-documentário:
Título original: Jean Piaget.
Produtora: Atta Mídia e Educação (Brasil, 2006, 57 min., a cores e a preto e branco, documentário).
Editora: Paulus Editora. Coleção: Grandes Educadores.
Roteiro e Apresentação: Yves de La Taille (Professor livre-docente e Chefe do Laboratório de Estudos do Desenvolvimento e da Aprendizagem do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo-USP).
Argumento: Biólogo de formação, psicólogo que estudou o desenvolvimento cognitivo, filósofo por afinidade, Piaget construiu uma obra longa, coerente e sistematizada. Os conceitos que cunhou marcaram o campo da pedagogia a tal ponto que muitos o consideram, erroneamente, um educador. Para guiar o professor que pretende conhecer melhor o tema, este vídeo apresenta de forma clara os principais conceitos piagetianos. Conforme Yves de La Taille, “a teoria de Piaget é importante para todos os adultos que lidam com crianças, pois oferece instrumentos que ajudam a entender não apenas o desenvolvimento da inteligência, mas suas decorrências, como a formação do comportamento e da personalidade da criança”.
Conteúdos do Documentário: Inteligência. Conceitos Piagetianos. Estágio Sensório-motor. Histórico e Epistemologia Genética. Estágio Pré-operatório. Estágio Operatório. Estágio Operatório Concreto e Formal. Desenvolvimento Moral. Piaget e a Educação. Mitos. O Método de Pesquisa. Indicações de Leitura.

Piaget, um grande psicopedagogo:
Jean William Fritz Piaget nasceu em Neuchâtel a 9 de agosto de 1896 e faleceu em Genebra a16 de setembro de 1980. Foi um epistemólogo suíço, considerado um dos mais importantes pensadores do século XX. Defendeu uma abordagem interdisciplinar para a investigação epistemológica e fundou a Epistemologia Genética, teoria do conhecimento com base no estudo da génese psicológica do pensamento humano. Estudou inicialmente biologia na Universidade de Neuchâtel onde concluiu o seu doutorado, e posteriormente se dedicou à área de Psicologia, Epistemologia e Educação. Foi professor de psicologia na Universidade de Genebra de 1929 a 1954, e tornou-se mundialmente reconhecido pela sua revolução epistemológica. Durante sua vida Piaget escreveu mais de cinquenta livros e diversas centenas de artigos.
Em 1919, viaja para Paris e começa a trabalhar no Instituto Jean-Jacques Rousseau, quando publica os primeiros artigos sobre a criança. O nascimento dos seus filhos (1925-1931) amplia o convívio diário com a "criança pequena" e possibilita o registo de observações que geram novas hipóteses sobre as origens da cognição humana. Durante a sua estadia em Paris, Piaget conhece Théodore Simon, que o convida a padronizar os "testes de raciocínio de Cyril Burt, desenvolvidos nos Estados Unidos, experiência que lhe permitiu delimitar um campo de estudos empíricos: o pensamento infantil e o raciocínio lógico. Como resultado desse trabalho, Piaget é convidado para o cargo de coordenador de pesquisas do Instituto, função que inclui a "Maison des Petits" (Casa das crianças).
Na filosofia de Bergson busca um caminho possível para o conhecimento científico e a análise crítica da origem do conhecimento e descobre a epistemologia. Num contexto de guerra (1915), Piaget conclui os estudos secundários, ingressa na Faculdade de Ciências da Universidade de Neuchâtel e publica A Missão da Ideia.Filia-se à Federação Socialista Cristã, em 1917. Em 1918, obtém o bacharelado em ciências naturais para, em seguida, finalizar a sua tese: Introdução à Malacologia da Região do Valais.
As suas primeiras pesquisas em psicologia, como coordenador do Instituto Jean-Jacques Rousseau, resultam num ciclo de cinco publicações: A linguagem e o pensamento na criança (1923)O raciocínio da criança (1924)A representação do mundo na criança (1926)A causalidade física na criança (1927) e O julgamento moral na criança (1931). Esta fase, sobretudo por apresentar a criança como sujeito da razão, "ainda que de uma razão própria", desperta interesse de estudiosos e Piaget é convidado para expor as suas ideias em universidades europeias e norte-americanas. Logo a seguir, Piaget participa de um Congresso Internacional de Psicanálise, em Berlim, com um trabalho sobre "o pensamento simbólico infantil". Com o livro A linguagem e o pensamento na criança Piaget apresenta um quadro do processo de aprendizado infantil. Qualificada como uma “coletânea de estudos preliminares”, tornou-se o início de uma obra influente sobre o desenvolvimento humano.
Além das suas pesquisas, Piaget mantém atividades como professor e assume as cadeiras de "Filosofia da Ciência, de Psicologia e de Sociologia" na Universidade de Neuchâtel. Em 1929, assume também a cadeira de "História do Pensamento Científico", e continua ensinando "Psicologia da Criança" no Instituto Jean-Jacques Rousseau. É também nesse ano que Piaget assume a direção do Bureau International de L'Education, vinculado à Unesco. A década de 1920 é representativa, também, na vida pessoal de Piaget. Em 1924, casa-se com Valentine Châtenay, com quem tem três filhos: Jacqueline (1925), Lucienne (1927) e Laurent (1931). São significativas as suas seguintes frases: "O principal objetivo da educação é criar indivíduos capazes de fazer cousas novas e não simplesmente repetir o que as outras gerações fizeram".
"As estruturas operatórias da inteligência não são inatas" "O professor não ensina, mas arranja modos de a própria criança descobrir. Cria situações-problemas".
Entre as obras de Piaget publicadas na nossa língua, de interesse para mestres e mestras, quero destacar as seguintes: A Linguagem e o Pensamento na Criança (1923). O Juízo e o Raciocínio na Criança (1924). A representação do mundo na criança (1926). A causalidade física na criança (1927). O julgamento moral na criança (1931). O desenvolvimento das quantidades físicas (1941). A gênese do número (1941). A noção de tempo na criança (1946). A geometria espontânea na criança (1948). A representação do espaço na criança (1948). A gênese das estruturas lógicas elementares (1959). Da lógica da criança à lógica do adolescente (1955).

O modelo construtivista piagetiano:
O Construtivismo parte da crença de que o saber não é algo que está concluído, terminado, e sim um processo em incessante construção e criação. Assim, o conhecimento é um edifício erguido por meio da ação, da elaboração e da geração de um aprendizado que é produto da conexão do ser com o contexto material e social em que vive, com os símbolos produzidos pelo indivíduo e o universo das interações vivenciadas na sociedade. Esta construção é realizada através da ação e não por dons concedidos anteriormente ao sujeito, presentes na constituição dos genes ou no ambiente em que ele cresceu. Assim, este método pressupõe que é a partir da atitude que se instituem a mente e a consciência, assim como os nossos pensamentos. O método construtivista fundamenta-se na escrita, pois acredita que o aluno tem condições de se alfabetizar sem a ajuda de cartilhas e mecanismos que o induzem a decorar, repetir mecanicamente, declamar, transmitir e aprender o que já está acabado. Parte-se da ideia de que a criança, antes mesmo de ser alfabetizada no ambiente escolar, já descobriu como funciona o processo de aprendizado do alfabeto, como, por exemplo, ler do lado esquerdo para o direito. A corrente em questão pressupõe, assim, que se o aprendiz estiver mergulhado em um meio que lhe proporcione e lhe motive a aquisição da alfabetização, ele poderá realizar este intento por si mesmo. Conclui-se daí que o estudante pode construir o seu conhecimento, atuando, executando, gestando, edificando este saber a partir do ambiente social em que vive e da relação com os professores.
O construtivismo educacional é fruto da união das correntes pedagógicas mais recentes, uma versão estendida destes métodos, sendo Piaget, com as suas pesquisas, o iniciador do modelo. Eles compartilham entre si o descontentamento com uma esfera educacional que insiste em preservar o viés ideológico que permeia as escolas tradicionais, as quais continuam recorrendo aos instrumentos do aprendizado mecanizado, que obriga os alunos a decorarem e repetirem como autómatas o conhecimento que lhes é transmitido. A educação, neste modelo, é tecida em conjunto por alunos e professores, frente aos exercícios da leitura e da escrita, exaustivamente praticados nas aulas. Assim, mestres e aprendizes atuam juntos na construção do conhecimento, assessorados pela incidência da problemática social mais atual e pelo arsenal de saberes já edificados, património intransferível do ser humano. A metodologia construtivista conduz, assim, a uma nova visão de mundo, seja ele o Cosmos ou o universo das interações sociais. Piaget foi, sem dúvida, um dos teóricos mais significativos deste modelo, acreditava no potencial da criança, no que ela traz em si enquanto herança da sua própria ação e do seu comportamento, o poder nela interiorizado de absorver as informações obtidas do mundo exterior e acomodá-las, isto é, alterar a sua forma, para que assim ela possa entender a realidade na qual está inserida. Basicamente, o saber é sempre produzido pelo ato de construção, o qual deve sempre ser estimulado no aluno.
O Nascimento da Inteligência na Criança, 

Fonte: www.diarioliberdade.org/

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